Macintosh TV: A raríssima "ovelha negra" da Apple

Pouquíssimos colecionadores de microcomputadores clássicos no mundo têm o privilégio de ter um exemplar destes em seu acervo.
Muitos sequer chegaram a ver um pessoalmente, de perto e especialmente, funcionando.

Apesar de ser considerado por muitos, como um dos piores (se não o pior) Macintosh de todos os tempos e certamente um dos maiores "flops" da história da "Big Red" (como a Apple era apelidada nos anos 80), este belíssimo microcomputador carrega uma bela história e alguns mistérios que pretendo revelar aqui neste artigo, em detalhes surpreendentes (alguns até para os mais árduos fanboys da marca), inclusive mostrando por dentro, detalhes do que (até a publicação deste artigo), aparenta ser o único exemplar de toda a América Latina.


Pensa num computador bonito. Sério.

Quando alguém com um mínimo de noção de design "bate o olho" num Macintosh TV (codinome "Peter Pan" para a Apple, mas "Blackintosh" para os fanboys), de cara já saca uma obra de arte de design: Linhas sóbrias, elegantemente proporcionais... Nada à esmo, exceto pela economia porca de enfiarem um leitor de CD com porta bege, numa história tão mal contada que até hoje não colou: A de que os funcionários da Apple não acreditavam que a máquina venderia bem e não compensava encomendar à Sony, 10 mil drives CDU561-25 SCSI (o modelo que veio de fábrica no meu exemplar de Macintosh TV aqui) com frente preta sendo que eles já tinham um monte desses drives com frente bege sobrando nos estoques, nma brincadeira que obviamente aumentaria o custo final do produto.

(Tá aí uma coisa que tenho de admitir: Se Steve Jobs ainda estivesse na Apple nessa época, certamente não toleraria esse "detalhe" no aspecto final do produto.)

Bom... Fora esse "detalhe", o design dele, o destacava numa mesa de escritório como objeto mais sério dela, sem "brigar" com o ambiente como os computadores beges da época e ao mesmo tempo meio que se "impondo" como o monolito de "2001 - Uma Odisséia No Espaço", como o primeiro Macintosh preto da história (opção bem rara na história dos microcomputadores de mesa da Apple).

Claro que esse trabalho de design não poderia ter sido obra de qualquer um.
Foi "cria" da Frog Design, numa época (final de 1991) em que a Apple não planejava continuar fazendo Macintosh "all-in-one" porque o mercado obviamente exigia monitores coloridos maiores, o que deixariam os computadores enormes e pesados, como o conceito "Big Mac" (que não tinha nada a ver com o hamburger do McDonald's).

Porém, um tal de Larry Barbera, começou com a idéia de fazer uma edição comemorativa de 10 anos da linha Macintosh, iniciada em 24 de janeiro de 1984 e portanto, teriam uns 3 anos para desenvolverem uma bela máquina para lançarem em 1994, o que ficou conhecido como "Mondo Project", cuja idéia passou a ser criar modelos novos de Macintosh "all-in-one", como os primeiros Macintosh preto e branco, porém com uma nova "linguagem" de design apelidada de "Espresso" que tem esse nome por introduzir um conceito de acesso rápido e simplificado à motherboard e dives, que consistia em tirar uma tampa (preferencialmente sem o uso de ferramenta nenhuma) e simplesmente puxar a placa ou os drives como que puxando uma gaveta - conceito posteriormente adotado em toda a linha Performa). Mas a idéia "não colou" no Apple Industrial Design Group e o "Mondo Project" foi arquivado, apesar de ter rendido o belíssimo Macintosh Color Classic.

Então, lá pelo final de 1992, o CEO da Apple (mais odiado por todo applemaníaco da história) John Scully, examinando o Macintosh Color Classic, pouco antes de seu lançamento, disse que a tela era muito pequena e que queria que ela tivesse 14 polegadas, que o micro tivesse drive de CD-ROM, alto-falantes estéreo e mandou criar um novo computador em 6 meses.

Foi aí que o Gerente de Design de Produto Eric Xantopoulos, ao invés de criar uma coisa nova, resgatou do "Mondo Project", um design, que se tornou o Macintosh LC-520, com o codinome "Hook" ("Gancho"... Bem apropriado), lançado em julho de 1993 e que foi um sucesso, em partes por seu excelente monitor com tubo Sony Trinitron M34JNQ10X de 14" (o melhor que existia na época nesse tamanho) e iniciou assim uma linha de computadores que adotaram o mesmo gabinete, como o LC 575, Performa 575, Performa 577, Performa 578 ...

Então resolveram aproveitar a "onda" de sucesso do LC-520 e enfiar um sintonizador de TV com controle remoto nele, "espetado" num estranhíssimo slot completamente diferente do já padronizado "LC-PDS", porque este precisava funcionar com o custom chipset de audio e vídeo da Philips soldado na motherboard, que só "entende" sinal de vídeo NTSC, além de ocupar um baita espaço nela  o que fez com que os engenheiros (sabe-se lá por quais cargas d'água) baixassem o clock do BUS da máquina de 25MHz para 16MHz e limitando a RAM para 8MB ao invés de 32MB.

Eis que em outubro de 1993, a Apple lançou o primeiro Macintosh preto, o primeiro com controle remoto e o primeiro com sintonizador de TV (que podia entregar imagem num incrível tubo Trinitron M34JNQ10X "Made In Japan", que repito, era o melhor cinescópio em cores de 14" que existia na época), mas que na prática, não passava de um "LC-520 preto com performance capada" e sensor de controle remoto no lugar do microfone, por US$ 2079,00, visando os usuários entry-level e estudantes que queriam um computador e um televisor num aparelho só.
O quê poderia dar errado?

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Anúncio de lançamento nas revistas da época.

Bom... Podemos listar alguns possíveis motivos, mas certamente os mais críticos foram:
1 - Poucos estudantes tinham US$ 2079,00 no bolso para comprar um televisor com um computador entry-level numa máquina só e saía mais barato comprar os dois separados.
2 - Você não pode ver TV e usar o computador ao mesmo tempo. (Grande coisa!)
3 - O computador é praticamente inexpansível. O que pode ser feito é pôr até 8MB de RAM (o máximo que ele comporta), um HD de maior capacidade e (se você tiver MUITA sorte de achar), um gravador de CD SCSI compatível. Ou, numa expansão mais radical, substituir a motherboard, por uma "Mystic Board". Mas aí, vira outra máquina e perde a graça.
4 - Performance. Sério. É aqui que a coisa realmente "deu ruim".

Apesar de o processador Motorola MC68030 operando a 32 MHz ser muito rápido para a época, com o bus operando a 16 MHz, com o máximo de RAM que ele suportava (8MB), não era páreo nem para um Macintosh SE/30 lançado 4 anos antes, com o mesmo processador operando a 16MHz, com o bus também operando a 16MHz e que podia ter sua RAM expandida para até 128MB.

E uma coisa que descobrí fazendo testes de benchmark comparando justamente com o Macintosh SE/30, usando o software Maxa Snooper, é que o FPU do MC68030 estranhamente parece não estar habilitado:

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OK, vídeo mais rápido como era de se esperar...


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Memória, também mais rápida, por ser mais moderna (-7nS)...

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Ei! Por quê ele come tanta poeira se em tudo ele é igual ou melhor que o SE/30?

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Processador matemático (FPU) desabilitado? Por quê?

Ah, e se você instalar a extensão Software FPU, que emula um FPU usando recursos da própria CPU, esse resultado de benchmark de Matemática, cai de 5% para 1% do desempenho e um Macintosh SE/30.

Em suma: O que inicialmente era para ser uma edição comemorativa da linha de computadores de maior sucesso da Apple, acabou virando a "ovelha negra" que vendeu só 10 mil unidades e como não teve uma segunda edição deste modelo, ele se tornou mais raro que o revolucionário Apple Lisa, que vendeu 11 mil unidades, o que faz do Macintosh TV, um dos computadores mais raros da Apple (excluindo é claro, os protótipos como o Macintosh SE transparente original e os modelos customizados exclusivos como o Macintosh SE/30 militar).

Mas apesar dos números, na prática (ou seja, se contarmos os exemplares que ainda funcionam) ele é provavelmente bem mais raro que outros computadores raríssimos da Apple, como o Lisa e o Macintosh XL. E o motivo é simples: Esses outros modelos anteriores são muito mais fáceis de serem reparados, de modo que muito poucos Macintosh TV no mundo ainda funcionam.

Porém, apesar do fracasso, o Macintosh TV abriu terreno para a inspiração de uma série de outros produtos da Apple ligados ao entretenimento como o Apple TV e até o 20th Anniversary Macintosh, 10 anos depois, uma edição comemorativa de edição limitada, que diz a lenda, era entregue por um cara de terno preto.


OK... Como essa raridade veio parar na minha coleção?

Eu era um técnico e representante Apple, sócio de uma revenda autorizada chamada Bytegraphix.
Um ou dois anos depois que a loja fechou, tínhamos alguns ativos de estoque sobrando e meu sócio tinha este exemplar parado na "lavanderia" dele fazia tempo e que ele tinha adquirido de um conhecido.
Eu, por outro lado, tinha um Performa 6300CD (outro Macintosh rotulado como "o pior já feito) que eu tinha ganho num trabalho para um cliente.
Como eu já tinha outro Performa na época (Performa 8100/180) bem mais poderoso e achava o Macintosh TV lindo apesar de ser um computador extremamente limitado para a época (e ainda da família de processadores 68K ao invés de PowerPC), resolvi oferecer o Performa 6300CD em troca e ele topou, uma vez que seria muito mais fácil para ele transformar o Performa 6300CD em grana enquanto eu via no Macintosh TV uma oportunidade de ter um "troféu" de recordação daquele período profissional.

É... foi simples assim.
Isso me faz meditar se certas peças de colecionismo escolhem a gente ao invés de a gente escolher elas.
Hoje, essa relíquia não tem preço (para nós, colecionadores). Foi como ganhar na loteria.
Mas manter um troféu desses, requer muito conhecimento técnico e muito cuidado ou logo ele deixa de funcionar, o que fatalmente irá acontecer algum dia como tudo neste mundo.


E agora, hora de abrir a "caixa preta"...

Para um colecionador de microcomputadores antigos, um Macintosh TV é ao mesmo tempo um enorme privilégio e um enorme problema.
O motivo para isso é que esses computadores do começo dos anos 90 não foram projetados para serem reparáveis.

E no caso do Macintosh TV, a coisa complica ainda mais (assim como em grande parte dos computadores das linhas LC e Performa, graças à arquitetura "Espresso", porque é impossível fazer a motherboard (que no manual de serviço é chamada de "logic board"), funcionar aberta, isto é, fora do chassis onde ela é normalmente encaixada, de modo que é impossível testar pontos do circuito quanto a tensões e sinais com ela funcionando, por exemplo.

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A logic board. À direita, o sintonizador de TV destacado dela.


A primeira coisa que se nota na motherboard do Macintosh TV, é o sintonizador de TV encaixado num slot proprietário, cuja documentação é completamente desconhecida, o que é bem frustrante para quem esperava substituir o sintonizador de TV por alguma placa mais interessante LC-PDS (Low Cost - Processor Direct Slot) típica dos Macintosh de uso doméstico dessa época, como talvez, uma placa aceleradora ou placa de rede.

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O slot do sintonizador de TV: Sem documentação nenhuma disponível em lugar nenhum.


E quem espera "espetar" uma placa de algum computador mais rápido, já com arquitetura PowerPC como o Performa 5215CD no gabinete do Macintosh TV, o conector de encaixe no chassis é diferente.

Nos PowerPC, ele é mais largo e disposto "de cabeça para baixo" em relação a conector usado nos 68K, ou seja... Sem chance. à menos que você compre uma Mystic Board. Mas aí, os conectores não irão encaixar no painel traseiro e você terá de fazer a máquina funcionar sem ele (e vai entrar poeira, à menos que você modele e imprima um novo painel numa impressora 3D).


Comparando os conectores de duas logic boards: Performa 5215CD e Macintosh TV.


Mas o principal motivo pelo qual muitos exemplares deixaram de funcionar, é um velho conhecido dos colecionadores e técnicos especializados em computadores clássicos: Os malditos capacitores eletrolíticos SMD com eletrólitos alcalinos à base da água do começo dos anos 90.

Essa desgraça da Indústria aí já destruiu uma infinidade de motherboards de computadores clássicos como os Amiga 600, Amiga 1200 e uma infinidade de Macintosh da época.
O que acontece é que com o tempo, eles vazam silenciosamente, corroendo as trilhas e vias da motherboard.


Exemplo de efeito de corrosão que um desses capacitores causa.


Eu até troquei os capacitores da motherboard do meu exemplar, porém com o tempo, tive de lavar a placa e substituir os capacitores de novo, porque a corrosão continuava com o tempo.
Em ambas as vezes, troquei por capacitores convencionais, porém não me agrada ve-los soldados de modo que um "esbarrão¨ acidental neles, possa arrancar uma trilha da placa e emuma delas tive de fazer um "remendo" por causa da corrosão de um daqueles malditos capacitores SMD.


Capacitores novos e "remendo" com wire-wrap: OK, que não é a coisa mais bonita do mundo, mas
funciona.


Como meu exemplar aqui, depois de anos, passou a falhar feio para ligar, achei que seria uma boa hora para fazer um recap (troca de capacitores) geral. Então... Mãos à obra!


Macintosh TV na bancada, pronto para ser dissecado...


Todo Macintosh "all-in-one" do primeiro modelo até os dessa época aí, tinham parafusos Torx T-15 prendendo a tampa. E não adianta usar uma chave de bits como essa que aparece discretamente do lado esquerdo aí dessa foto acima, porque sempre tem algum cantinho que se usar isso aí, o bit Torx não alcança o parafuso. É melhor usar uma chave torx de verdade e de haste bem longa, o que pode ser bem difícil de achar aqui no Brasil.


Esse fio vermelho aí é EXTREMAMENTE PERIGOSO. Sério.


A primeira coisa a se fazer em QUALQUER aparelho que tenha cinescópio (o "tubo de imagem", o CRT - Cathode Ray Tube), é descarrega-lo, obviamente com o equipamento desconectado da tomada e com o máximo de cuidado possível.

AVISO IMPORTANTE:
Se você não souber descarregar um tubo de CRT (tubo de imagem), ou não está acostumado com circuitos de alta tensão, NÃO MEXA!
As tensões envolvendo cinescópios podem ser MORTAIS mesmo com os aparelhos desligados.
Confie esse serviço para quem sabe como faze-lo com segurança.

O procedimento correto para isso consiste em usar uma chave de cabo isolado e haste metálica longa, com um fio preso ligando ela ao terra do cinescópio.
Uma vez que o fio esteja devidamente conectado ao terra, segura-se a chave pelo cabo isolado, com a mão direita, mantendo a mão esquerda (a mais próxima do coração) nas costas e enfia-se a chave por baixo da chupeta do cabo do flyback, encostando a ponta da chave nos contatos do conector do cinescópio.

Embora existam aparelhos que tenham um resistor para descarregar cinescópio, mesmo com ele, este componente tende a ser MUITO traiçoeiro e todo cuidado é pouco com as tensões mortais acumuladas neles, mesmo desligados.


Para os teóricos da conspiração de plantão: Essa etiqueta azul aí no flyback, não tem nada a ver com um certo vírus chinês, tá?


Sempre seguindo rigorosamente o manual de serviço, despluga-se o cabo do flyback, os cabos das bobinas defletoras, desconecta-se o bloco de trás do conector do cinescópio, o cabo da bobina desmagnetizadora, o cabo do sensor de controle remoto e os cabos de aterramento.
Depois puxa-se a placa para trás, abrindo cuidadosamente duas travas plásticas no chassis, perto do painel frontal para liberar a placa analógica.


Quem já mexeu num Color Classic ou num LC-520, vai achar essa placa bem familiar.


A placa analógica do Macintosh TV, contém a fonte chaveada, o circuito do monitor e o amplificador de áudio estéreo e é exatamente a mesma do LC-520.

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Embaixo da placa analógica, perto da chave de força, dá para conferir que é a mesma placa analógica do LC-520.

Essa placa analógica é muito similar à do Macintosh Color Classic, com a diferença de que o circuito de amplificador de áudio é estéreo ao invés de mono e portanto, tem uns componentes extras, mais notavelmente, 2 circuitos integrados Philips TDA7052A que são os amplificadores mono (1 por canal, para som estéreo). No Color Classic, só tem 1.


Dois Philips TDA7052A: Amplificadores de audio com controle de volume.

E por falar em som, estranhamente, meu Macintosh TV, tem os canais esquerdo e direito, invertidos.
Aparentemente, é um erro de projeto da Dna. Apple.

Experimentalmente, até cheguei a fazer um mod trocando os canais, reinstalando esses dois chips aí com soquetes e dois fios, ligando o pino 2 do canal esquerdo no local correspondente do canal direito na placa e vice-versa, mas como manteve invertido os canais da saída dos fones, resolvi reverter o mod como estava e concluí que trata-se mesmo de um erro de projeto na motherboard do Macintosh TV,

Talvez um dia eu revisite essa questão com mais calma, porém o foco era a troca de capacitores para consertar o startup da máquina.
Mas claro... Aproveitei para fazer uma boa limpeza interna e umas fotos exclusivas aqui para vocês. 😁

Para desconectar o chassis "Espresso" do "bezel" (o painel frontal onde o cinescópio está parafusado), solta-se 4 presilhas plásticas com cuidado nas laterais dele.

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O chassis "Espresso": Um "gaveteiro" que conecta os drives, a placa lógica e a placa analógica, ainda com as blindagens.

Após remover essas blindagens cuidadosamente, para poder reinstala-las corretamente após a limpeza, me veio à mente uma observação chata: Muito "fução" costuma jogar fora essas blindagens de computadores antigos, como se elas não servissem para nada.

Ora... Nenhum fabricante gasta dinheiro mandando fazer peças que não servem para nada. E nesse caso, servem para isolar o circuito interno de interferências eletromagnéticas, ou o mesmo de interferir externamente em outros aparelhos através de interferências eletromagnéticas.
Um efeito conhecido como
"Gaiola de Faraday" .

Já ví muito equipamento que vivia travando, parar de travar após ser meramente isolado numa blindagem eletromagnética.
Sem falar em aparelhos de som captando interferências de emissoras de rádio, portanto, essas blindagens nem de longe são "supérfluas".


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Blindagens separadas para reinstalação posterior.


Voltando ao chassis "Espresso", ele não passa de um bloco de plástico com cabos flat crimpados com conectores proprietários.

Haviam umas fitas amarelas sobre alguns desses conectores, provavelmente para proteger as pontas dos fios desses cabos flat.
Removí todas, limpei bem e substituí por fita Kapton, que é feita para aplicações em Eletrônica e suporta altas temperaturas.


O chassis "Espresso pelado": É... Eu sei... Imagem decepcionante.

E no chassis do meu Macintosh TV havia uma etiqueta com um carimbo "93 5. 15" ou seja, 15 de junho de 1993.

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Close da etiqueta colada no chassis "Espresso".

Do lado de baixo do chassis  "Espresso", tem-se acesso aos alto-falantes de 8 ohm, com cabos conectados, curtos demais para que eu pudesse simplesmente trocar um pelo outro desinvertendo a inversão de canais de fábrica e eu me recuso a cortar esses cabos para emenda-los.

Talvez um dia eu encontre conectores similares e faça uma extensão em um desses pares cabos de modo a mante-lo intocado.

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Alto-falantes... E cabos curtos.

Se você reparar nesta foto aí acima, no canto superior esquerdo, tem um buraco redondo.
Trata-se de uma baia para encaixar alguma coisa que é um total mistério para mim.

Talvez tenha alguma finalidade em outro modelo que use a mesma baia.

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A misteriosa baia com um buraco redondo no chassis.


Bom... Para encurtar a história, o que estava causando o problema do startup do meu Macintosh TV, no final das contas nem eram os capacitores eletrolíticos antigos (embora alguns já estivessem vazando e outros estivessem levemente alterados).
O culpado principal era um capacitor escondido no meio do circuito da fonte chaveada.
Ele estava rachado e com o valor alterado. Substituí por um novo.

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Capacitor rachado: Condenado. Já foi para o lixo.


Mas o tal capacitor não foi o único culpado.

Uns meses antes, eu tinha feito um dispositivo para poder usar uma bateria CR2032 comum para alimentar o circuito de clock e PRAM, afinal, ela gera 3V. Apenas 0,6V à menos do que a bateria 1/2 AA de lítio de 3,6V.

Já fiz um dispositivo assim para o Power Macintosh G4 QuickSilver e nele funcionou maravilhosamente bem.

Porém, o Macintosh TV é um computador mais antigo, que tem circuitos que consomem mais corrente. E uma bateria CR2032, que além de baratinha se encontra em qualquer lugar, mesmo com 3V e sendo nova, em pouco tempo, não gera corrente suficiente e a PRAM fica maluca, impedindo o startup normal do computador.

E vai por mim... o Macintosh TV é MUITO manhoso com essa bateria.

O jeito foi tirar o escorpião do bolso e pagar 4x mais numa loja especializada em pilhas e baterias...

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Bateria 1/2 AA de 3,6V de lítio...

E por falar em manha, meu Macintosh TV ainda apresenta algumas manhas ao tentar liga-lo após algum longo período desligado:

Uma vez que energizado (ligada a chave física geral atrás do computador), ao se pressionar a tecla "power" no teclado para ligar o computador, se ele der aquele som de falha de memória (causado por baixa tensão de alimentação da fonte), basta deixa-lo ligado assim mesmo por uns 2 ou 3 minutos (o que faz as tensões provenientes da fonte alcançarem a tensão normal de uso).
Aí, desligo a chave geral, espero uns 20 segundos (uma clássica boa prática para evitar a possibilidade de sobrecargas internas), re-energiza-lo e pressionar a tecla "power" novamente.
Neste ponto, os capacitores da fonte já têm alguma carga e o computador já boota normalmente.

Ainda estou investigando o quê pode estar causando esta lentidão para normalizar as tensões de saída da fonte após longos períodos desligado.


Floppy...

Bom... Aproveitei para fazer o recap do drive de disquete (o tal "Apple SuperDrive", que na verdade, trata-se de um Sony MP-F75W-31G, de "2MB"... na prática, 1.44MB) embora que, achar o alinhamento correto dele sem o equipamento apropriado tenha sido um desafio de tentativa-e-erro.

Outra coisa que foi feita é a verificação de uma engrenagem. A maldita engrenagem amarela que afeta uma infinidade de aparelhos e que sempre apodrece neles.
No caso deste drive, ela faz parte do mecanismo de eject do disquete.
Esse drive foi bastante utilizado, mas por incrível que pareça, a engrenagem estava boa.

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A maldita engrenagem amarela no canto inferior esquerdo da foto.

Aliás, uma dica para quem deseja trocar arquivos entre um Macintosh com floppy drive USB externo, ou PC com um Macintosh antigo desses: Use disquetes formatados para IBM PC (FAT filesystem). Sério.
O motivo, é que drives de PC ou drives USB externos, operam com rotação fixa, enquanto drives de Macintosh "raiz", operam com rotação variável, de modo que os filesystems que eles tipicamente usavam (MFS e HFS) só podem ser gravados e lidos corretamente nesses drives de Macintosh, não de PC comuns.
Claro que, os MacOS ou "System" (como a Apple chamava o MacOS antigamente) mais antigos, anteriores ao 7.5, precisavam de utilitários especiais para ler disquetes formatados em FAT.
Caso você tenha mais curiosidades sobre disquetes e floppy drives, tenho um outro artigo bacana só sobre isso aqui mesmo neste blog.

Hard Disk...

O hard disk original do macintosh TV é um Quantum de 160MB SCSI-2 (conector IDC de 50 pinos).
O meu veio com um Digital de 512MB que infelizmente deu problema e o troquei por um Quantum Fireball SCSI de 1GB.
Bom... Nada de especial aqui.
Talvez eu adquira um BlueSCSI para substitui-lo algum dia. Não sei ainda.


CD-ROM drive...

O leitor de CD-ROM que veio no meu Macintosh TV, é um CDU561-25 SCSI e com o tempo, ele começou a apresentar problemas.

OK... fiz o recap e umas gambiarras numa buxas que apodreceram e ele até passou a funcionar por um tempo.
Porém, um dia ele deixou de funcionar e fui testar ele num outro computador de modo que eu pudesse ve-lo funcionando e tentar identificar alum possível problema na placa... Eis que ao enfiar um CD-caddy com CD dentro... um ponto no meio da placa acende e sinto um cheiro de queimado...

Desliguei o drive e removi a placa... Um componente queimou e fez um buraco nela. Nem deu para saber que componente era, nem como as trilhas próximas estavam ligadas.
Minha teoria é a de que alguma sujeira metálica devia estar solta lá dentro e causou um curto inutilizando o drive.
E aqui sim, temos um problema: Não é qualquer drive de CD-ROM que serve nesse computador.

Primeiro, porque ele tem de ser um drive SCSI, com conector IDC de 50 vias. Um tipo de conexão praticamente extinta hoje em dia.
(OK... Até tenho um drive de CD-ROM SCSI aqui, até bem mais moderno que esse original que ainda usa CD-caddy aí, mas...)

Segundo, este conector tem de estar localizado "em cima" e não "embaixo" na traseira do drive como a maioria desse tipo de drive.
E o motivo para isso é que para ele funcionar, é preciso encaixar duas barras de contatos nesses conectores (SCSI e audio) para ele poder encaixar no chassis "Espresso".

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Os conectores e as barras de contatos para o chassis "Espresso".

Para entender melhor como esse drive se encaixa dentro do chassis, segue mais uma foto:

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A baia para drive de CD-ROM do chassis "Espresso", por dentro.

E terceiro: O drive precisa ser do tipo que usa CD-caddy.
Se fôr de "gaveta", como praticamente todos os modelos de drive de CD de 1995 até hoje, ela simplesmente não passa pela ranhura do painel frontal do Macintosh TV.

Em suma... Alguns modelos de drives óticos que são compatíveis com o Macintosh TV, são:
- CDU561 (e suas variações como -25, -10, que tem porta de CD-Caddy cinza escura e a -1, que acredito ter sido a primeira revisão;
- CDU920S (gravador de CD com porta de CD-Caddy bege, como o drive original);
- CDU924S (gravador de CD com porta de CD-Caddy cinza escura).

Todos de fabricação Sony.
Ainda estou pesquisando para ver se encontro outros modelos de drive possivelmente compatíveis fisicamente com o Macintosh TV.

Também não sei se algum outro fabricante teria algum drive de CD com essas características físicas de compatibilidade. Mas aparentemente, só a Sony fez drives assim.

Por curiosidade, na ROM do drive que veio no meu Macintosh TV, consta "APPLE COMPUTER, INC" (o que confirma que ainda era o drive original) e "SONY CD-ROM CDU-8003A1.9a", o código do "Apple CD 300".

No momento, ainda estou procurando substituir este drive.
Até lá, ainda posso usar um drive SCSI externo, como um SyQuest Ez-Flyer 230MB.

O quê eu posso dizer agora?
Aguardem os próximos capítulos da novela "Blackintosh"! 😜

Última revisão deste artigo: 13 de abril de 2024.

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