Atari 8-bit: Uma plataforma além de seu tempo, mas completamente ignorada no Brasil
Quando falamos em Atari aqui no Brasil, a primeira coisa que vêm à mente é o videogame Atari 2600, lançado em 1977.
Pouca gente por aqui chegou a conhecer os (para a época) poderosíssimos microcomputadores Atari de 8 bits lançados apenas 2 anos depois.
Tão poderosos, que alguns dos conceitos introduzidos nessas peças hoje históricas, evoluíram para tecnologias modernas como chipset dedicado, GPU programável por linha, interface serial universal para periféricos... (Sim. Essa coisa já tinha algo muito parecido com USB desde 1979.)

Atari 800XL - A segunda geração de um mito.
Sempre que estamos falando em retrocomputação, é importante contextualizar o cenário da época para entender o tamanho do trabalho hercúleo dos Engenheiros, Projetistas e Desenvolvedores para entregar produtos satisfatórios ao consumidor à partir de... muita, mas muita criatividade para vencer os obstáculos tecnológicos do período.
Por exemplo... Se considerarmos que em 1979, os microcomputadores mais poderosos ou eram monocromáticos e só exibiam texto, como a "enxurrada" de microcomputadores compatíveis com o sistema operacional CP/M (embora até houvessem alguns com capacidades gráficas cujos preços deixavam claro que seu uso era para ser exclusivamente profissional); ou a linha TRS-80 que só era compatível com ela mesma (e olha lá); ou se você quisesse algum som ou cores, podia optar por um Apple II, capaz de apresentar até 15 cores na tela (graças à uma baita gambiarra de "timing" de vídeo) e som com qualidade... "buzz-blips-pops" de um falantinho sem controle de volume.
Mas como o foco da Atari era arcades e videogames, a idéia era vender um microcomputador doméstico capaz de rodar jogos tão bons quanto ou no mínimo, bastante similares aos dos arcades. Daí a idéia de pôr nesse projeto, exatamente os mesmos chips customizados que a Atari usava nos seus arcades. Eram eles:
Pokey (C012294), um processador de som de 4 canais responsável também pela leitura do teclado e dispositivos de entrada/saída seriais);
CTIA (Color Television Interface Adapter), um processador de vídeo que evoluiu do TIA do Atari 2600, mas que tinha muito mais truques na manga:
O CTIA (Color Television Interface Adapter), graças a outro chip, o ANTIC, já aceitava instruções por linha mais ou menos como as modernas placas de vídeo, o que era chamado de "Display list". Muito bem explicado no vídeo deste link aqui.
Tudo isso orquestrado pelo excelente microprocessador MOS 6502 (apenas na primeira geração da plataforma, "modernizado" para o 6502-A "Sally" nas gerações posteriores) e por seu PIA 6520 (Peripheal Interface Adapter,
C014795), responsável pela leitura das portas de controladores de jogos e controle dos bancos de memória.
Nenhum microcomputador nessa época, tinha chips dedicados a funções específicas de hardware, o que garantiu à plataforma, um grau de confiabilidade e eficiência ímpar para a época.
Aliás, o chipset gráfico dos Atari 8-bit (Antic, CTIA e posteriormente, o GTIA) foram projetados por nada mais nada menos que Jay Miner, o "criador" do lendário Commodore Amiga, por isso é mais fácil você encontrar similaridades de hardware entre um Atari 8-bit e um Amiga, do que entre um Commodore 64 e um Amiga.
No entanto, aqui no Brasil, só se começou a falar de microcomputadores lá por 1983. Como em 1984, nossos "brilhantes" congressistas nos presentearam com a Lei Federal nº 7.232/84, com o intuito de "proteger a Indústria Nacional de Informática", proibiram a importação de TUDO relacionado à informática, de modo que ficamos COMPLETAMENTE ISOLADOS do resto do mundo nesse assunto, tendo de ou desenvolver tudo do zero, ou piratear (mal) os "gringos" na cara dura. Cagada federal que só foi percebida 7 anos depois graças à Lei Federal nº 8.248/91 (a única coisa boa do Governo Collor), quando a Indústria Brasileira já não tinha mais a menor condição de competir tecnologicamente no mercado internacional justamente por não podermos ter contato direto com o que havia de mais moderno tecnologicamente no mundo... E ainda hoje, em 2022, continuarmos correndo atrás desse prejuízo, já que não se desenvolveu significativamente naquele período crucial, uma cultura ligada ao entendimento de como essas coisas funcionavam.
Nos tornamos um país de meros consumidores de tecnologias, que não fazem idéia de como elas funcionam e nem sequer querem saber disso.
Eu mesmo, só soube da existência de computadores Atari em 1983, porque ví fotos na "Enciclopédia Prática de Informática" (uma publicação sob a fora de fascículos que eram vendidos semanalmente em bancas de jornal para serem posteriormente encadernados) em que eles pareciam incrivelmente poderosos.
Além de mostrarem os microcomputadores da Primeira Geração da Atari (Atari 400 e Atari 800), a enciclopédia ainda exibia fotos dos periféricos da Atari, o que deixava claro para mim que "lá na gringa" esses computadores eram bastante populares.
Populares à ponto de serem usados como videogame em quarto de criança, o que me deixou "chocado" com a realidade na época.
Um Atari 400 em uma das fotos da Enciclopédia Prática de Informática que marcaram minha adolescência e abriram meus olhos.
Como nós perdemos o "bonde" que carregava todo o início de uma Era, com um monte de plataformas de microcomputadores que sequer se vaporizava sua existência em terras tupiniquins...
Em 1985, numa feira de negócios em São Paulo, conhecí
um alemão chamado Christian Weygoldt, que tinha um Atari 800XL e que não tinha
com quem conversar porque praticamente ninguém falava Inglês por lá, exceto eu.
Então, como
eu tinha um CCE MC-1000,
acabamos conversando sobre as duas plataformas e saí de lá
impressionado com as capacidades gráficas e sonoras dos
microcomputadores Atari, mesmo nunca tendo visto um.
Muitas plataformas nasceram e
morreram de lá para cá e eu nunca me cansei de aprender coisas sobre elas, mas os Atari permaneciam puro "vaporware" aqui no Brasil, onde eles (e principalmente seus periféricos) são estupidamente raros e caros mesmo para colecionadores/restauradores como eu.
Eu só fui conhecer pessoalmente um microcomputador Atari aqui no Brasil, em 17 de novembro de 2013, num restrito encontro de colecionadores de microcomputadores clássicos.
O dia em que finalmente conhecí um Atari 400... mais de 30 anos depois que eu soube da sua existência.
Antes de falar mais sobre a minha experiência pessoal com essa plataforma, talvez fosse melhor falar da história dela.
A Primeira Geração (1979 a 1983)
Já falei dos dos dois microcomputadores da primeira geração dos "Atari 8-bit", como a plataforma é conhecida, o Atari 400 e o Atari 800.
Ambos tinham o mesmo chipset, mas enquanto o Atari 400, que era comercializado para uso educacional ou para videogames, só tinha 4KB de RAM (expansível até 16KB), o Atari 800 tinha 8KB de RAM (expansível até 48KB), um teclado "profissional", 4 portas para controladores de jogos (joysticks, paddles, etc.) e tinha um curioso slot de cartucho "extra", que foi removido nas gerações futuras porque foram feitos muito poucos cartuchos que funcionavam no "slot direito", idealizado inicialmente para comportar cartuchos contendo interpretadores de linguagens de programação como dialetos do BASIC ou algumas outras linguagens.
Se você ligasse o computador sem nenhum cartucho naquele slot, tinha só um terminal rodando um "editor de texto" rudimentar da ROM, chamado "Memo Pad" que servia para demonstrar o poder do terminal interno dos Atari 8-bit, considerado bastante sofisticado para a época.
Um Atari 800 de um colecionador amigo meu que fotografei em 11 de abril de 2015, quando finalmente conhecí pessoalmente essa máquina.
Além dos dois microcomputadores, a Atari lançou vários periféricos para ambos.
Por exemplo, o "Program Recorder"(como a Atari o chamava seus "datacorders", na prática, gravadores de fita cassette adaptados para computadores domésticos) Atari 410, o drive de disquetes 5,25" Atari 810 (com mecanismo tipo "porta") e Atari 810 (com trava tipo "ratoeira"), a impressora matricial de 40 colunas Atari 820, a impressora térmica Atari 822, a impressora matricial de 80 colunas Atari 825, o MODEM (de acoplamento acústico) Atari 830, o Modem (de conexão direta) Atari 835, o adaptador Atari 850 que disponibilizava 4 portas seriais RS-232C e 1 porta paralela e uma infinidade de outros periféricos a Atari lançou além de terceiros...
Uma curiosidade desses Atari 8-bit de primeira geração, é que tanto a RAM quanto a ROM eram em forma de cartuchos de expansão (acessíveis embaixo do mecanismo da tampa)
A Atari chamava esses cartuchos "diferentões" aí de "Personality ROMs" (exceto as memórias RAM, obviamente).
Cartuchos de expansão de RAM e ROM escondidos sob o mecanismo da tampa do Atari 800.
Bastava soltar dois parafusos, remover o mecanismo da tampa dos cartuchos e plugar ou desplugar os cartuchos de expansão nos respectivos slots, para mudar sua configuração de memória... Inclusive a ROM!
Um cartucho da ROM do Atari 800.
A Segunda Geração (XL, 1983 a 1985)
Apesar do "choque" causado pela Atari, a concorrência se mexeu, em especial a Commodore, lançando seu Vic-20 em 1980 especificamente para competir no nicho do Atari 400 e especialmente, o Commodore 64 em 1982, com uma campanha de marketing altamente comparativa. Ambos muito mais baratos (especialmente porque o FCC já tinha relaxado as regras contra interferências de RF que até então forçava a Atari a encapsular praticamente todos os seus dispositivos em pesados e caros blocos de alumínio).
Para piorar as coisas, além de o Commodore 64, vir com 64KB de RAM, tinha uma capacidade de som bem mais expressiva graças a seu chip SID, capaz de sintetizar 3 canais de sons em FM contra os 4 canais de formatos de onda programáveis do Pokey, embora ele não tivesse um DOS (Disk Operating System) como o Atari e adotasse protocolos de funcionamento de uma porta serial "half duplex" muitíssimo "mal resolvidos" (porém retrocompatíveis com seus antecessores Vic-20 e Pet) se comparado ao SIO da Atari, que estava tão além de seu tempo que alguns dos princípios de funcionamento são usados nos modernos dispositivos USB (como a capacidade de o computador identificar o dispositivo imediatamente e "já saber lidar com ele", bem "plug-and-play" mesmo, literalmente), o consumidor, impressionado com a capacidade de memória, com o som mais agradável e com preço bem abaixo dos Atari, fez do Commodore 64, o microcomputador de 8 bits mais vendido da história.
A solução "emergencial" da Atari foi lançar o Atari 1200XL (que a Microdigital aqui no Brasil copiou o design do gabinete para o TK-2000 na cara dura) substituindo o CTIA pelo GTIA (Graphics Television Interface Adapter, C014805), já com 64KB de RAM, uma tecla "HELP" que não existia na plataforma, assim como uma porta de expansão direta (bus expansion, que a Atari chamava de "Parallel Bus", nada a ver com porta paralela IEEE-1284 ou similar bastante usada para conectar impressoras) comum em computadores da época (embora cada plataforma tivesse a sua) e uma disposição das portas de controle de jogos em 45 graus, que atrapalhou a vida de muita gente... mas a pior parte: Custava quase o dobro do anunciado inicialmente, sendo descontinuado em 1983. E portanto, na prática, só serviu para a Atari "marcar território" como uma espécie de "teaser" enquanto ganhava tempo preparando o lançamento do Atari 600XL (com 16KB de RAM) e Atari 800XL (com 64KB de RAM) em 5 de junho de 1983, para substituir os icônicos Atari 400 e Atari 800 em seus respectivos nichos.
Os novos modelos, muito mais compactos e de construção muito mais simples, eram bem mais baratos, melhor "resolvidos" que o Atari 1200XL (inclusive incluindo a porta "Parallel", que era o tradicional "bus expansion" típico dos computadores da época, embora cada plataforma tivesse uma pinagem diferente) e assim como o 1200XL, já tinham lógica CMOS ao invés de TTL, o que os tornava bem mais eficientes em consumo de energia, inclusive o processador, agora uma versão especial do MOS 6502C, apelidado de "Sally" (C014806), que permite desabilitar o sinal de clock (HALT) pelo pino 35, habilitando sinal de R/W no pino 36, permitindo assim que o Antic possa desligar o acesso da CPU às linhas de endereçamento e de dados e ter acesso direto à memória (DMA).
Além do Atari 600XL e do Atari 800XL (o computador mais vendido da história da Atari), (dizem que) eles lançaram também os "high-end" (e estupidamente raros) Atari 1400XL (com MODEM e sintetizador de voz embutidos) e o Atari 1450XLD (com um drive 5,25" face dupla e espaço para um segundo drive). Esses dois são tão raros que até para achar alguma foto ou vídeo deles é difícil.
Tenho até minhas dúvidas se não eram só protótipos.
Uma característica dessa geração, é que agora, os computadores Atari 8-bit vinham apenas com 2 portas para controles de jogos (assim como os Commodore Vic 20 e C64) ao invés de 4. Característica que posteriormente foi imitada por quase todos os computadores de 8 bits daí em diante.
E naturalmente... A Atari lançou também toda uma nova linha de periféricos acompanhando o design dos novos Atari precisou ser lançada, como o "Program Recorder" Atari 1010, o drive de disquetes de densidade dupla Atari 1050, a bela impressora matricial Atari 1029, a impressora matricial (não tão bela assim) Atari 1025, o curioso plotter Atari 1020, a mesa digitalizadora Atari Touch Tablet além, de vários outros que certamente omití aqui.
Outra curiosidade sobre esta segunda geração de computadores é que a tecla com o logotipo da Atari, foi substituída pela tecla "inverse", que fazia mais sentido, uma vez que a única função dela era apenas inverter os caracteres no vídeo.
Observação importante: Entre 1982 e 1984, a Atari lançou um videogame que era basicamente o mesmo hardware de um Atari 8-bit de Segunda Geração chamado Atari 5200.
Porém, a BIOS de 10K foi encurtada para 2K, o GTIA e o Pokey eram
acessíveis em posições de memória diferente, as funções de certos
registradores era diferente e os controladores de jogos eram tratados de
modo diferente.
Devido a essa similaridade, é comum que modernos
emuladores de Atari 8-bit, incluam esse videogame na lista, mas o
software dos jogos, embora sejam os mesmos, é diferente e incompatível
com os computadores Atari 8-bit.
A Terceira Geração (XE/XEGS, 1985 a 1992)
Em 1985, a Atari já estava entrando na Era dos microcomputadores de 16 bits (a plataforma Atari ST) e resolveu mudar o design da nova geração de seus computadores de 8 bits para acompanhar a nova identidade visual, lançando o Atari 65XE (comercializado como Atari 800XE na Alemanha e na então Checoslováquia), com 64KB de RAM e o Atari 130XE, com 128KB de RAM.
Observação: Uns dizem que XE significa "XL-compatible Eight bit". Outros, "XL-Enhanced". Pra mim é só um nome bonitinho inventado pelos marqueteiros da Atari.
Essa geração removeu a porta "Parallel Bus", já que o slot para cartuchos já tinha praticamente todas as linhas de dados e de endereçamento típicos de um bus expansion, exceto algumas linhas de sinais de controle que foram acrescentados num slot do lado. A Atari chamou essa solução de "Enhanced Cartridge Interface" (ECI).
Como o bus expansion não era típico dos primeiros Atari 8-bit e até hoje não sei se houveram dispositivos populares que usassem a tal porta "Parallel Bus" (embora certamente tenha sido amplamente utilizada por hobbistas e "fudebas" em geral), também não sei se o mesmo aconteceu com o tal ECI.
Até onde eu saiba, os usuários só usaram o slot para cartuchos mesmo.
Em 1987, a Atari não tinha mais "exatamente" interesse em manter a linha de 8 bits, já que os 16 bits eram bem mais competitivos, mas como essas máquinas tinham uma biblioteca de jogos gigantesca já disponível no mercado, havia uma legião de aficcionados da qual ela não podia abrir mão (até porque ainda dava um bom lucro) e como a Nintendo já estava agitando o mercado de videogames domésticos desde 1985, "queimando" assim a fama da Atari, ela resolveu lançar o Atari XEGS.
Como XEGS significa XE Game System, a Atari praticamente nos ensinou com isso, como descontinuar uma plataforma tradicional reduzindo-a um mero console de videogame.
Porém, ao contrário do Atari 5200 que era um "Atari 8-bit capado", o XEGS era, eletronicamente falando, um Atari 65XE com um teclado removível, que sem ele, ao invés de bootar o Atari BASIC, bootava o jogo "Missile Command". Logo, o XEGS não foi uma "Quarta Geração" dos Atari 8-bit como muita gente diz, embora tenha sido o último dos Atari 8-bit a ser lançado. Também não foi o último a ser descontinuado (1991, enquanto o 130XE foi descontinuado no ano seguinte).
Restaurando um Atari 800XL
Eu tinha acabado de restaurar um belíssimo Macintosh SE que infelizmente estava queimando os periféricos que eu espetava na porta ADB.
Como eu já tinha sido representante e técnico autorizado Apple (e por causa disso já tive 14 modelos diferentes de Macintosh de gerações diferentes) e um amigo tinha um Atari 800XL parado, resolvemos fazer uma "troca de figurinhas".
Ele ficou com o SE praticamente novinho, limpinho e cheirosinho e eu fiquei com o Atari 800XL... er... por restaurar.
Pode até parecer uma troca injusta, mas não para mim, que buscava mesmo era conhecer mais dessa plataforma que me intrigava havia mais de 30 anos e ainda poder ostentar mais um "troféu" das minhas restaurações de microcomputadores clássicos... e um que diga-se de passagem, no Brasil é bem raro.

A foto do Atari 800 que o meu amigo me mandou.
Eu sabia que ele não estava muito bem conservado, mas o importante é que ele funcionava e dava para restaurar.
Antes mesmo da troca, eu já havia me adiantado, confeccionando um cabo de audio e vídeo e comprado dois cartuchos de jogos para poder testa-lo.

Incrível como esses cartuchinhos subiram de preço de lá pra cá.
Um observador atento, vai notar que se você soldar apenas os pinos de audio, vídeo e terra (GND), o cabo que fiz (com pino DIN-5 numa ponta e 2 conectores RCA na outra) poderá ser usado para obter vídeo composto também num Commodore 64.

Pinagens básicas. CUIDADO: Não me responsabilizo se você inverter as coisas.
Enquanto ele não chegava, eu vía reviews estrangeiros desse computador, para compreende-lo melhor antes de pôr minhas mãos nele.
Mais tarde, já com o micro em mãos, adaptei uma fonte chaveada de 5V 2A. Como eu não tinha conector DIN-7, usei um DIN-5 mesmo. Funcionou direitinho. Por isso marquei em cinza os pinos que não usei nesse desenho.

Antes da restauração... Bem sujo e amarelado, como eu já imaginava.
Infelizmente o gabinete apresentava rachaduras bem feias atrás dele e um conector DB9 proveniente de alguma modificação que o dono anterior não soube me dizer o que era.

Rachaduras no gabinete e buraco extra para um conector DB9 (canto superior direito).
A modificação parecia ser algum tipo de "SIO2PC", bem típica, porém interna e com um outro chip que nem lembro qual era mas que estava pifado segundo meu MiniPro e portanto, foi pro lixo, provavelmente um 14C89 ao invés do MAX232 que os "fudebas" costumam utilizar hoje em dia para fazer porta serial para os Atari 8-bit, o que pode indicar uma modificação muito antiga.

Gambiarra com fios grossos soldados direto nos pinos do conector SIO do Atari 800XL... Que coisa feia!
Esse é o tipo de vandalismo completamente desnecessário num Atari 8-bit se o objetivo é conecta-lo a um PC rodando algum emulador de periféricos (como drives, "Program Recorder", ou impressora).
É perfeitamente possível fazer uma interface serial tipo "SIO2PC" externa para esses Atari 8-bit, mas hoje, é muito mais simples, fazer um "SIO2USB".
Basta comprar um cabo ou adaptador USB-TTL com chip PL2303 por exemplo, fazer um cabo com 3 conectores tipo "tubinho" devidamente isolados com tubo termo-contrátil numa ponta e na outra soldar no adaptador USB-TTL nos pinos TX, RX e GND.
Aí é só plugar o Atari no PC, rodar algum software emulador de periféricos como o RespeQt no PC, configurar ele para usar a porta USB correta e boa.
É
uma solução de baixo custo bem "manhosa" em relação à RS-232C, mas que funciona até que bem se você conecta o
Atari ao PC diretamente sem nenhum outro periférico no meio, porque essa solução aí não tem controle de fluxo, de modo que no emulador de periféricos (RespeQt ou AspeQt, por exemplo), o "normal" é selecionar o controle de fluxo como "none" e ter timeouts bizarros no Atari, conforme rolou numa discussão no AtariAge que pode ser conferida em detalhes aqui neste link*, ou selecionar o controle de fluxo como "Software SIO2BT" e ficar limitado à 19200 bps com algumas "pausas aleatórias" de alguns segundos para o software processar as alterações de velocidade do Pokey.
* Nessa discussão aí rolou um papo esquisito de remover os capacitores C77 e C78 do Atari 800XL, bem como os C56, C57, C58 e C61 do drive Atari 1050, para atingir 38400 ao invés dos 19200 bps. Eu optei por deixar os preciosos ítens da minha coleção "como saíram da fábrica" nesse ponto, porque penso que nenhum fabricante gasta $$$ com componentes eletrônicos à toa.
Além do fator histórico, esses capacitores podem servir para proteger componentes internos de "imprevistos" externos bastante comuns de ocorrerem em cabos de comunicação.
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Minha "SIO2USB" eu fiz assim. Muito mais confiável e segura. Mas é um "quebra-galho".
Posteriormente, o amigo Cristiano Paolo Vidotto Bernardo, imprimiu um conector SIO em 3D para mim.
Aí esse cabo ficou realmente chique.

O cabo "SIO2USB" final que estou usando no meu Atari 800XL.
A melhor solução conhecida para esse tipo de interface SIO2USB no momento, usa o chip FTDI FT232. Essa além de ter o sinal CTS (ou seja, um quarto fio, ligando o CTS ao pino 7 do conector SIO).
E se você fôr usar mais periféricos além do PC e seu Atari, precisa incluir um diodo de uso geral (tipo 1N4148) em série, entre o sinal TX da plaquinha e o anodo ligado ao pino 3 do SIO ao invés de ligar direto. Isso compatibiliza a interface com o "SIO daisy chain".
Observação: Se você ligar seu PC a um drive (digamos Atari 1050) e esse drive ao seu Atari, e o drive estiver desligado, não haverá comunicação direta entre seu PC e seu Atari.
Exemplo de SIO2USB feito do jeito certo: com chip FTDI, sinal CTS ao pino 7 e diodo entre o pino 7 e o sinal de TX da plaquinha. (foto: Manterola)
Quanto ao gabinete... Após desmontar tudo, remover a etiqueta metálica e lavar bem as peças...

Massa de epoxi do outro...
Massa de epoxi no buraco do vandalismo... A parte complicada foi simular a textura do plástico.
Havia também um buraco de parafuso estourado.
Fiz uma plaquinha com um furo, à partir de um pedaço de caixa de CD e colei com massa de epoxi.

Essa tampa vai fechar direitinho. Ah, se vai!
E antes que alguém dê um "grito"... Não, não é o furo para o trim-pot de ajuste da matiz do GTIA.
Sim, esse computador, assim como o console Atari 2600, tem um ajuste de cor através de um furo embaixo do gabinete.
Embora eu não tenha encontrado nenhum lugar que falasse de um padrão exato "ótimo" para esse ajuste, espetei ele num televisor enorme, espetei o jogo "Frogger" (o mais colorido que tenho) e ajustei o meu de modo que todas as cores ficassem bem nítidas e com o mínimo de "color artifact" e boa.
O ajuste de matiz de cor do GTIA é feito por esse trim-pot aí facilmente acessível de fora do gabinete por um furo, como no Atari 2600.
Aí, seguem umas 3 demãos bem finas de primer spray cinza Colorgin 53001, umas 4 demãos finas de tinta spray Colorgin 55221 "Amarelo Brastem"...
E o gabinete ficou com aspecto de novo.
Só que como agora onde era plástico é uma pintura, preciso tomar cuidado para não deixar nenhum cabo encostado nela, ou poderá haver reação química entre o cabo e a pintura, estragando o trabalho.
As
portinhas de alumínio da entrada do cartucho foram lixadas, polidas e
envernizadas. Originalmente com esse verniz para artesanato. Mas ele não
é muito resistente. Então numa segunda tentativa, usei o verniz
Sayerlack Poliurack.

Pintura nas portinhas de alumínio.

A tampa de plástico fumê sobre o painel, foi desmontada, lavada e polida antes de ser montada aí novamente...
O teclado, removi as teclas para lava-las uma a uma.
Inicialmente não desmontei completamente o teclado, porque fiquei com
medo de estragar a membrana e aí... Seria um problema beeeeem grande
achar outra para substituir. (Infelizmente não fui agraciado com um dos primeiros Atari 800XL que vinham com teclado mecânico fabricado pela Alps.)
Mas as capas das teclas são feitas de 2 tons de plástico. Nada daquele silk-screen fraquinho de certas plataformas da época.
Às vezes alguma molinha sai um pouco do "prumo" e uma chacoalhada a põe no lugar.
Confesso que o meu Atari 800XL não estava com teclado lá muito responsivo não. Certamente pela idade da membrana que com certeza já foi bem surrada pelo tempo. Isso é um pouco irritante.
Apesar de ser um teclado de acionamento por membrana, as molas dão uma sensação tátil muito similar a do teclado do CP-500/M80C, embora mais duras.

Teclados de membrana são um problema para nós, colecionadores.
De fato, o teclado estava com certas trilhas da membrana, oxidadas e oferecendo muita resistência elétrica, de modo que tive de corrigir com tinta condutiva de prata.
A minha idéia era comprar uma membrana nova (cada dia mais rara no e-Bay bem como em lojas especializadas e que até bem pouco tempo, ainda eram produzidas pela Retronics), mas a importação dela tornava o projeto absolutamente proibitivo.

Uma membrana nova, produzida pela Retronics, com trilhas protegidas contra oxidação.
Antes de montar de volta a membrana "remendada", escaneei o material:

A membrana original: Base de Mylar com "silk-screen" de tinta condutiva de prata. (Foto preto e branco.)
O espaçador entre as 2 camadas da matriz do teclado. (Foto em preto e branco.)
Se tudo der certo, logo vetorizo e compartilho o layout no Datassette.
Tapa final...
Como felizmente desta vez, não precisei fazer nada na parte Eletrônica (exceto um "recap" de praxe e retirar aquela gambiarra serial de dentro dele), apenas montei ele todo de novo após restaurar o gabinete.

O buraco do vandalismo praticamente nem aparece mais.

A tampa do slot para cartucho, ficou nova.
O painel, ainda tem pequenas cicatrizes de guerra.
No geral, ficou muito bonito. Valeu o trabalho.
O Atari Touch Tablet CX-77
No meio dessa aventura toda, tinha esse dispositivo raríssimo à venda no Mercado Livre que estava lá "dando sopa" por vários meses e ninguém comprava mesmo estando num preço que achei bem justo.
Estava completamente "loose", sem caixa, nem manuais, nem a canetinha (Stylus), nem o cartucho Atari Artist (que podia vir em disquete também).
Pois é... o doido aqui comprou e depois teve de ouvir o "chororó" de colecionadores arrependidos que não compraram antes.

Eu, e meu raríssimo Atari Touch Tablet.
Trata-se de uma mesa digitalizadora, de funcionamento que lembra muito as modernas Wacom "da vida", porém com tecnologia obviamente bem inferior, embora possa ser usado para desenhar até com o dedo, sem a necessidade da canetinha.

Quando eu disse que era um aparelho raro, o número de série não me deixa mentir.
Tem um bons reviews desse periférico no YouTube que explicam bem seu uso... bastante simples e óbvio, diga-se de passagem.
Basta pluga-lo na na porta de Joystick 1, espetar o cartucho (ou ler o disquete) do programa Atari Artist e sair desenhando com ele.
Nessa mesma época, havia também um produto concorrente, o KoalaPad, que havia para Apple II e Commodore 64 além do próprio Atari 8-bit, que no caso, vinha com software Koala Micro Illustrator, que era literalmente o mesmo Atari Artist, porém, o eixo vertical fica invertido se utilizado com o Atari Touch Tablet.
No entanto, o Atari Touch Tablet tinha um "luxo"... que o KoalaPad não tinha: a canetinha que vinha com ele tinha um botão, o que facilitava muito na hora de desenhar, porém, como o meu não vinha com a canetinha (que mesmo lá "na gringa" à venda "loose" custa os olhos da cara...), medí o tamanho da caneta da minha Wacom Graphire 4x5, cortei uma agulha de tricô de 1cm de diâmetro com o mesmo comprimento (da ponta até o ponto de corte deu 14cm), fiz um furo para um micro push button de um lado, um furinho minúsculo do outro, para empurra-lo de modo a encaixar no lugar certo e soldei o micro push button no "complexo circuito" (um fio duplo com um conector jack macho mono de 2,5mm na outra ponta e um aliviador plástico de cabo no meio). Passei um pouco de cianoacrilato nas laterais do push-button, emburrei ele para dentro da agulha e com o auxílio de um alfinete, empurrei o push button para encaixar no devido furo.
Não é a caneta original, mas funcionou direitinho.
Minha Atari Touch Tablet DIY Stylus.
Alguns anos depois, resolví imprimir a minha própria canetinha o mais parecido que eu pude em relação à original, apesar de só ter fotos de Internet como referência.
Essa é a minha versão, modelada no Blender e impressa numa Creality Ender 3 V3 KE.
Mais detalhes da "saga" de fazer essa canetinha impressa em 3D podem ser encontrados (em inglês) na minha publicação no Thingiverse.
Internamente, o Atari Touch Tablet é um aparelho é até bem simples, porém, infelizmente também não encontrei o esquema eletrônico para poder explicar com exatidão como ele funciona.
Nada muito especial dentro da mesinha.
Procurei algum artigo para explicar o funcionamento desse aparelho, mas
só achei aqueles infomerciais tentando vender mesas digitalizadoras como
se fossem uma "grande novidade".

Atari 800XL com o Atari Touch Tablet.
O AtariBASIC
Embora seja bem "arcaico", AtariBASIC (que nos Atari 400 e Atari 800 vinha num cartucho e à partir dos XL já vinha em ROM), era bastante interessante. Ele não apenas já suportava nativamente (ou seja, sem precisar expandir a ROM) até 15 controladoras de disquetes simultaneamente e já fazia atribuições para dispositivos conectados na porta SIO.
Por exemplo: o comando LIST "D1:ARQUIVO.TXT" listava o programa da memória direto para um arquivo-texto de nome "ARQUIVO.TXT" no drive de disquete 1 (especificado por D1:).
Só que no caso, o texto não é ASCII. É ATARSCII... É... Ele usa um banco de caracteres fora de padrão assim como o concorrente Commodore 64 (que usava o tal do PETSCII). Mas bem mais "padronizado" que os bancos de caracteres dos microcomputadores das linhas Sinclair, por exemplo.
Aliás, a ROM dos Atari 8-bit, inclui um utilitário de diagnóstico interno, básico, mas muito bom bom, que basta ligar com a tecla OPTION pressionada (se você não tem drive "espetado" nele) ou digitar BYE no BASIC para aciona-lo. Sem contar, que se você deixar o computador parado por um tempo, sem mexer com ele, há uma rotina que fica alternando as cores na tela.
Sim, os Atari 8-bit foram os primeiros computadores (ao menos que eu saiba), a terem screensaver... na própria ROM!
O editor de texto para os programas lembra muito o do MSX (só que as teclas de cursor precisam ser pressionadas em conjunto com a tecla CONTROL).
Também tinha a praticidade da tecla "INVERSE" representada por um retângulo formado por dois triângulos retos de tons opostos. Essa tecla, no Atari 800 e no Atari 400 era representada pelo logotipo da empresa.
No entanto, nem tudo são flores. O modo confuso de definir modo gráfico e cores, chega a ser tão irritante que é mais fácil dar uns "POKEs" direto nos endereços de memória responsáveis por essas coisas.
Exemplos:
Em modo GRAPHICS0 todos os parâmetros de cor para caracteres mudam.
POKE 710,34 para emular um monitor de fósforo âmbar.
POKE 710,16 para emular monitor de fósforo verde.
POKE 710,0 para emular fósforo branco.
Uma coisa que não faz muito sentido é ele ter 38 colunas de texto se podemos habilitar 40 colunas com um comando POKE 82,0.
Mas irritante mesmo é o modo espartano de manipular strings tendo de dimensionar elas. A "solução" é tão ruim, que quando portei o ELIZA para a plataforma Atari 8-bit, tive de apelar para o Microsoft BASIC para Atari.

Eu e mais um troféu para a coleção.
Para finalizar este artigo, deixo aqui um demo (bem impressionante) rodando num Atari 8-bit "envenenado" no limite:
WePlash by Grey, MotionRide & Nir Dary, 2017 Última revisão deste artigo: 15 de setembro de 2025.
WePlash by Grey, MotionRide & Nir Dary, 2017





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